A acupuntura é uma técnica terapêutica praticada há milênios em alguns países asiáticos que se expandiu ao redor do mundo, chegando inclusive ao Brasil. Associada à prática de colocar agulhas espalhadas pelo corpo de um paciente, a prática possui vários benefícios, que têm sido comprovados pela ciência ao longo dos anos, e pode ajudar pessoas com problemas de ansiedade ou estresse durante a pandemia do novo coronavírus.
Uma forma de entender para que serve a acupuntura é entender sua história. O médico André Tsai, presidente do Colégio Médico de Acupuntura de São Paulo (CMAeSP), explica que a técnica surgiu na China, entre 3 e 4 mil anos atrás, se espalhando então para outros países da Ásia.
Inicialmente, a ideia de colocar agulhas no corpo da pessoa tinha o objetivo de estimular pontos energéticos e recuperar um “equilíbrio interno” perdido, que seria causador de problemas de saúde. Os responsáveis por realizar a terapia registravam os benefícios que observavam como resultado. “A acupuntura é desenvolvida por milênios, com uma certa consistência, e as bases são usadas até hoje”, comenta Tsai.
Apesar da origem milenar, a ciência ocidental entrou em contato com a acupuntura principalmente a partir de 1972. Naquele ano o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, viajou para a China e se encontrou com o líder chinês Mao Tse-tung. Um dos jornalistas estadunidenses que cobria a viagem teve uma apendicite, passou por uma cirurgia e, durante o pós-operatório em um hospital chinês, teve sessões de acupuntura.
Quando o jornalista escreveu sobre esse tratamento, a acupuntura começou a ganhar popularidade no Ocidente, chamando atenção de cientistas ocidentais. “A comunidade científica começou a pesquisar, fazendo testes de laboratório. A ciência confirma os efeitos da acupuntura, mas não para tudo”, explica Tsai.
Acupuntura se baseia em colocar agulhas em pontos do corpo para que substâncias químicas sejam liberadas Foto: Freepik / @tongcom
Mas afinal, no que se baseia a acupuntura? A terapia clássica, chamada também de acupuntura sistêmica, envolve colocar várias agulhas de forma homogênea no corpo do paciente. Os pontos do corpo no qual são colocadas não são escolhidos ao acaso, a ideia é que o contato da agulha com a pele leve à liberação de substâncias, como a endorfina e a serotonina.
O médico explica que isso envolve uma “cascata de reações neuroquímicas”, que resultam na liberação de substâncias que promovem um “relaxamento mental, muscular e alívio de tensão”. Por isso, os principais benefícios da acupuntura envolvem o alívio de sintomas como insônia, ansiedade, estresse, depressão e dores no corpo, também ajudando a reduzir a quantidade de medicamentos consumida em um tratamento.
“É uma complementação de outros tratamentos, para aliviar esses problemas. Em casos bem leves pode até resolver, mas, no geral, tem esse aspecto complementar”, explica Tsai. Outro benefício da técnica é que ela é um método não farmacológico, ou seja, não envolve o uso de substâncias químicas.
Isso significa, segundo Tsai, que ela não costuma gerar reação alérgica ou efeitos colaterais, comuns em medicamentos. “Estando em mãos competentes, raramente gera um dano, apesar de eles existirem. É um método não-farmacológico. Sendo feito por profissionais habilitados, os efeitos colaterais são mínimos”, explica o médico.
No geral, os pacientes que fazem sessões de acupuntura possuem quadros de ansiedade, insônia ou dores crônicas em alguma parte do corpo. É importante, porém, se atentar a quem irá realizar as sessões de acupuntura.
“A acupuntura foi reconhecida como especialidade médica em 1995. É recomendado, portanto, que seja feita por médicos, pois é quem pode fazer um diagnóstico clínico, para analisar o caso”, comenta Tsai. O diagnóstico é importante pois existem casos em que a acupuntura não é recomendada, mas sim um procedimento cirúrgico, um exemplo é quando uma dor nas costas é causada por uma hérnia de disco, que possui um tratamento específico e não é resolvida com a técnica terapêutica.
Acupuntura durante a pandemia
André Tsai explica que no começo da pandemia, a acupuntura foi classificada como um serviço fora da linha de frente do combate ao novo coronavírus, e que a orientação foi a de fechar consultórios até uma ordem de reabertura. Conforme o processo foi ocorrendo, os médicos especializados em acupuntura foram abrindo suas portas novamente.
“Estamos adequando o atendimento seguindo as regras: sem aglomerações, consultas mais espaçadas para não gerar espera, pacientes mais pontuais”, explica o médico. A cada atendimento as superfícies em que o paciente fica são higienizadas, além disso, as agulhas são descartadas, algo que sempre precisou ser feito pelos médicos.
Entretanto, é sempre importante garantir que a técnica seja feita por um médico especializado em acupuntura. Hoje, alguns convênios já possuem médicos e clínicas cadastradas, e a acupuntura é uma terapia complementar disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). É possível também entrar no site do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA) e procurar os profissionais cadastrados.
Tipos de acupuntura
Tsai comenta que a acupuntura foi evoluindo com os anos, e mais recentemente surgiram alternativas à acupuntura sistêmica. A mais conhecida é a acupuntura de microssistema, em que, ao invés de colocar várias agulhas espalhadas pelo corpo, coloca-se agulhas em uma parte específica do corpo do paciente.
A craniopuntura envolve colocar agulhas na região do couro cabeludo, nuca e face Foto: Freepik / @wavebreakmedia_micr
“Dependendo da patologia, a gente pode lançar mão de mais agulhas em algumas regiões”, explica o médico. Uma técnica conhecida que usa a noção de microssistema – em que há uma representação de todo o corpo em apenas uma área dele – é o sujok, técnica de origem coreana em que as agulhas são colocadas apenas nas mãos.
Também existem outras versões. Uma delas é a auriculoterapia, que geralmente acompanha a acupuntura clássica e envolve colocar agulhas finas ou semestes na orelha. No caso das sementes, o efeito de liberação de substâncias não é químico, mas sim mecânico, pelo contato delas com a orelha, assim, podem ser substituídas por esferas metálicas ou cristais.
A reflexologia não envolve agulhas, mas sim massagens na região dos pés do paciente. O objetivo é o mesmo: fazer com que o corpo libera substâncias químicas e gerar relaxamento. Já na craniopuntura, também microssistêmica, as agulhas são colocadas no couro cabeludo, na nuca e no rosto. No fim, Tsai ressalta que o método usado depende do paciente e do médico.
Fonte: Estadão 14/08/2020.